Josué Montello está para o Maranhão como Jorge Amado para a Bahia e Érico Verissimo para o Rio Grande do Sul. Adotaram cenários regionais, mas com vocação universal em seus romances. A Bahia, especificamente Salvador, se transformaram em atração turística, o mesmo se pode dizer da Porto Alegre de Verissimo e da São Luís de Montello. A ficção tem a extraordinária capacidade de criação de realidades. Aprendi a gostar de romances lendo “Olhai os Lírios do Campo” de Érico, o primeiro passo para novos livros do autor e de outros romanistas. Dos três conversei pessoalmente apenas com Josué. Em 1997, precisamente dia 18 de outubro daquele ano, coordenava o Núcleo de Pesquisas Jurídicas, integrante do Fórum Universitário, que por sugestão minha recebera o nome de Fernando Perdigão. Sabia da amizade que os ligava, tanto que em “Coroa de Areia” seu romance histórico, ele é um personagem, fato por ele confirmado. Lhe formulei convite para a fala inaugural. A aceitação do convite me permitiu a conversa.
Josué discorreu linearmente sobre a estória abrangendo o ciclo das insurreições tenentistas, começando com a do Forte de Copacabana até a deposição de Washington Luís, chamada de Revolução de 30, que teve logo após Junta Interventora no Maranhão de que fez parte Reis Perdigão, irmão de Fernando. Este seguiu a carreira jurídica, advogado, professor e diretor da Faculdade de Direito, fundada por seu pai Domingos. Aquele ingressou na carreira diplomática, aposentando-se como Cônsul.
Em “Coroa de Areia” é possível ver realidade e ficção se interpenetrarem como se as duas fizessem parte do mesmo sonho. O romancista percebeu o interesse dos jovens pela História, aliás, indispensável para a compreensão do Direito. Sobre este último afirmou: só viceja em ambiente democrático. Foram momentos satisfatórios de formação cultural.
Antes, em setembro daquele ano, estivemos lado a lado na Academia Maranhense de Letras, por conta do Ciclo de Debates “O Legado Literário, Jurídico e Teológico do Padre Antônio Vieira, realizado de 4 a 5 de setembro, com a presença de Sonia Netto Salomão, de Pierangelo Catalano, pesquisadores da Universidade de Sassari, na Itália, de quem recebi convite para visita a Roma, não me sendo possível aceitá-lo por conta de compromissos anteriormente assumidos,
Eram pesquisadores com laços largos de amizade com o escritor, manifestaram inclusive sua admiração pelo seu trabalho de divulgação cultural do Brasil, na Embaixada junto a Unesco, e como adido cultural na França e Portugal, além das conferências e palestras realizadas na Europa.
Josué cultivou suas raízes maranhenses, nunca desatou os vínculos com a província. No final dos anos quarenta da centúria passada, a convite do interventor Satu Bello, elaborou Plano de Educação para o Estado. Foi Secretário Geral de Governo acompanhado o interventor junto às repartições da capital federal, na época o Rio de Janeiro, onde já desfrutava de amplo conhecimento e prestígio com as autoridades constituídas após o fim da ditadura Vargas.
Muito tempo depois, para preservar as conquistas da Universidade Federal do Maranhão aceitou o reitorado, evitando as cizânias internas que lhe pareciam fatais para a nova instituição tão desejada por seus conterrâneos. No impasse para a escolha do candidato situacionista na gestão Newton Belo, chegou a ser pensado como alternativa.
No plano nacional exerceu a diretoria da Biblioteca Nacional e do Museu da República, no Palácio do Catete, a convite de Juscelino Kubitschek-JK, de quem amigo e “ghost writer”, escrevendo muitos dos seus discursos. JK sabia escolher bons auxiliares.
Não se pode dizer que Josué Montello era um intelectual engajado como foi Jorge Amado até certo ponto, e Érico Verissimo em termos, mas do ponto de vista da técnica do romance era imbatível.