08/04/2019

Letras da América Latina

Autor: João Batista Ericeira sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados

Nos apontamentos para o livro de memórias, que ele disse nunca escreveria, intitulado “Navegação de Cabotagem”, Jorge Amado relata a conversa com o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, e o conselho por este dado: “todo escritor latino-americano deve comprar um apartamento em Paris.” A capital francesa era o centro do mundo cultural civilizado. O romancista baiano questionava a existência de uma literatura latino-americana, mas por via das dúvidas, adquiriu um apartamento em Paris, onde recebia Pablo Neruda, Picasso, dentre outros grandes nomes das letras e das artes.

Para Jorge Amado, haviam literaturas particulares, como a do Brasil, do Haiti, do México, e a generalização seria prejudicial ao reconhecimento de cada uma. O fato é que a expressão se consagrou, foi majoritariamente adotada no campo das letras e da geopolítica.  Em tempo relativamente exíguo, 65 anos, seis autores da América Latina foram contemplados com a maior comenda da literatura internacional, o Prêmio Nobel. Começou pela chilena Gabriela Mistral em 1945.  Em seguida vieram o guatemalteco Miguel Ángel Asturias em 1967; o chileno Pablo Neruda em 1971; o colombiano Gabriel Garcia Márquez em 1982; o mexicano Octávio Paz em 1990; e por último, o peruano Mario Vargas Llosa, em 2010.

Nenhum brasileiro na lista, embora tenham sido cotados para receber a láurea, Jorge Amado e Érico Verissimo, entre outros. Não que não merecessem. A explicação é que escreveram em português, idioma mais isolado se comparado com o espanhol, falado pela maioria do continente, dispondo de maior potencialidade mercadológica.

O Prêmio Nobel, da Academia de Ciências da Suécia, como tudo, não está alheio ás influencias mercadológicas, havendo também questões políticas o influenciando, como ocorre, por exemplo, com a premiação do Oscar, da Academia Cinematográfica de Hollywood.  Importa assinalar, houve clara intenção de prestigiar a produção literária, na prosa e na poesia, de autores representativos, do que se convencionou chamar de literatura da América Latina.

Região conflagrada por conflitos sociais e políticos oriundos do processo colonizador realizado pelas monarquias ibéricas, movidas pela contrarreforma da Igreja Católica, desconsiderando e esmagando as culturas locais. De início, estava submetida às visões da metrópole  na perspectiva única e utópica do projeto europeu.

Depois vieram os movimentos autonomistas, como o iniciado pelo diplomata, romancista e jornalista da Guatemala, Miguel Ángel Asturias, autor da trilogia bananeira: “Viento Fuerte”, de 1950; “El Papa Verde, ” de 1954; e “Los Ojos de los enterrados, de 1960. Nela, o mito indígena se faz presente como forma de compreensão da realidade.  A manifestação do realismo mágico constante das obras de Garcia Márquez, de Jorge Amado, de Érico Verissimo, do mexicano Octávio Paz, do peruano Vargas Llosa e outros.

No romance de 1946, “El señor Presidente”, o guatemalteco relata a triste realidade de uma ditadura latino-americana e os crimes por ela cometidos contra os Direitos Humanos. A questão político-jurídica torna-se determinante para o entendimento do que se denomina de literatura engajada, expressão adotada a partir do ativismo existencialista do casal de intelectuais franceses, Jean-Paul Sartre e Simone Beauvoir.  Parecida direção toma o romance de Érico Verissimo, “ O Senhor Embaixador”, descrevendo a fictícia “República de Sacramento” situada nas Antilhas, e os seus problemas de corrupção e desigualdade social, na visão do embaixador Gabriel Heliodoro. É uma síntese do que se convencionou chamar de “repúblicas de bananas “ da América Latina.

As questões literárias entrelaçadas às políticas e jurídicas serão examinadas na Mesa de Debates do próximo dia 12 envolvendo a Literatura, a Democracia, o Direito e o Estado de Exceção na América Latina, promovido pelo CECGP. Dois agraciados com o prêmio Nobel, Garcia Márquez e Vargas Llosa merecerão especial atenção. Fica aqui o convite.

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