30/01/2017

Jânio, o Messias

Autor: João Batista Ericeira é professor universitário e sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados

Comemora-se no Brasil o centenário do nascimento de Jânio da Silva Quadros, na presente quadra do ressurgimento populista nos Estados Unidos, com a eleição de Donald Trump para a Presidência do país considerado modelo da democracia ocidental. Os mais velhos estão lembrados, no passado, o populismo era apresentado como cabal prova de subdesenvolvimento dos latino-americanos, onde apreciam os salvadores da pátria, içando a bandeira do nacionalismo, apresentando-se como “pais dos pobres”.

Nas “Repúblicas de Bananas” não haviam partidos políticos sólidos, Judiciário independente, imprensa livre. Os líderes populistas estabeleciam ligação direta com as populações sem a intermediação de entidades mediadoras da sociedade civil. O que existia de organizado erm as Forças Armadas e o clero, organizações corporativas, hierarquizadas, sujeitas ao chefe, havido como representante da nação, daí a inevitabilidade ao apelo nacionalista.

Nos países de colonização espanhola, predominavam lideranças populistas de extração militar, no Brasil, tal como em Portugal, de origem civil, nos exemplos de Getúlio Vargas, Collor de Melo, Jânio Quadros. Este último cumpriu meteórica carreira ao eleger-se em 1947 vereador na cidade de São Paulo. Tratava-se de um professor de português do Colégio Dante Alighieri, que fizera a campanha com recursos oriundos da cotização dos alunos. Pobre, dotado de invejáveis recursos retóricos, abusando das colocações pronominais, prometia varrer a corrupção, empunhando a vassoura como símbolo da luta contra o principal mal, a desonestidade dos políticos.

Seu principal adversário, o ex-interventor Adhemar de Barros, nomeado por Vargas para governar São Paulo durante o Estado Novo, médico de formação, era conhecido pelo slogan “Rouba mas Faz”. Após a redemocratização, elegeu-se prefeito e governador de São Paulo. Contra Jânio assestava as baterias do discurso raivoso, pernóstico, prometendo combatê-lo e prendê-lo. Por pouco não o fez, Adhemar teve que se exilar na Bolívia, Argentina, para fugir a ação da Justiça.

Em treze anos de carreira Jânio elegeu-se sucessivamente deputado estadual, prefeito de São Paulo, governador, deputado federal, por fim, Presidente da República em 1960. Nos palanques, muito magro, vestindo ternos surrados, cabelo desalinhado, muita caspa, comendo sanduiches de mortadela, dizia, iria reformar a política, fazer a justiça social, e meter os corruptos na cadeia.

Os discursos eram arrebatadores, coléricos, neles, prometia cumprir as promessas a qualquer custo, como se fora um líder messiânico. Eram meados do século passado. Os comícios muito frequentados, porque a televisão dava os primeiros passos, e os contatos entre os candidatos e os eleitores eram diretos. Jânio arrastava multidões aos comícios. Distribuía-se as vassouras, símbolos da campanha, e cantava-se músicas como: “varre, varre vassourinha, varre a bandalheira, Jânio Quadros é a esperança deste povo abandonado...”.

O principal adversário de Jânio na eleição de 1960, o marechal Teixeira Lott, advertiu em entrevista aos jornais da época: se seu opositor fosse submetido a exame psiquiátrico, não seria aprovado. Ninguém ligou para a advertência. Se tratava de um fenômeno de massa. Ao seu redor aglutinavam-se políticos da direita e da esquerda, dos mais diversos partidos. Até mesmo porque ele não acreditava em partidos. Filiado originalmente ao Partido Democrata Cristão-PDC, depois a União Democrática Nacional-UDN, flertava com os partidos trabalhistas, socialistas, pouco importava, o candidato era a bandeira e o programa.

Assim, elegeu-se Presidente da República em 1960, sob o beneplácito da imprensa, das classes conservadoras, de alguns sindicatos, dos militares, e os aplausos de sociedade. Elegeu-se com a cifra astronômica para aquele tempo: seis milhões de votos.

Iniciou o governo em janeiro de 1961, com o estilo de bilhetes aos ministros, emanando ordens; a criação de comissões presididas por militares, para apurar os casos de corrupção; a inauguração da política externa independente; e lances picarescos como as proibições dos biquínis e das brigas de galo.

Sete meses depois, em 25 de agosto de 1961, endereçou comunicação ao Congresso Nacional, renunciando o cargo de Presidente da República, argumentando que “forças ocultas e terríveis “ o ameaçavam. Nunca nomeou quais. Pelo desprezo aos partidos, não dispunha de apoio parlamentar. Eram inúmeras as contradições entre a política interna e a externa do seu governo.

A renúncia teria sido um lance para voltar com plenos poderes outorgados pelo Congresso, como antes fizeram De Gaulle, Fidel Castro e Nasser. As massas não atenderam o seu apelo. Três anos depois o golpe militar de 64 o cassaria. Foi o epílogo do messias. O que vem depois é nota de rodapé. 

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