08/03/2021

Retrato em Branco e Preto

Autor: João Batista Ericeira é sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados

O professor Antônio Augusto Ribeiro Brandão, decano da Academia Maranhense Cultura Jurídica, Social e Política, postou no grupo de WhatsApp fotografia datada de 11 de dezembro de 1968, nela, aparece entre pessoas conhecidas da sociedade ao lado de Juscelino Kubitscheck-JK, na visita do ex-presidente a São Luís para paraninfar a primeira turma de economistas da Universidade Federal do Maranhão. O que parecia ser simples ato de graduação universitária, transformou-se em episódio político da maior gravidade.

JK determinara a bancada do PSD que votasse no general Castelo Branco para Presidente da República, após a deposição de João Goulart-Jango, na eleição indireta efetuada no Congresso Nacional. Mas foi pelo mesmo cassado e suspensos os seus direitos políticos. Mais grave, teve que responder a vários inquéritos com a pretensão de provar o seu enriquecimento ilícito. Depois viu-se, não tinham procedência. Em seguida, aliou-se ao ex--adversário Carlos Lacerda, juntamente com Jango, no movimento denominado Frente Ampla, objetivando acelerar o retorno à democracia. O deputado maranhense Renato Archer, que recebera apoio dos estudantes, era um dos principais articuladores do movimento.

Após a colação de grau no auditório da Biblioteca Pública, com as falas do paraninfo e do orador da turma José Mário Ribeiro da Costa, ofereceu-se almoço a JK no clube Jaguarema, ocasião em que o governador de então, José Sarney, entoou loas ao visitante, saudando-o como, “meu presidente”. Tudo parecia transcorrer normalmente, mas ao chegar em casa, o orador José Mário foi preso, o mesmo acontecendo a JK ao descer do avião em Recife. Dois dias depois era editado o Ato Institucional nª 5, fechado o Congresso com cassações, incluindo a de Renato Archer.

José Mário fora meu professor na Academia de Comércio. Brilhante, eloquente, relata que na prisão foi interrogado, colocado em solitária, ameaçado e depois libertado. Ato contínuo requereu audiência ao Comandante da Região Militar, contando-lhe as agruras porque passara.

Após ouvi-lo o general Dilermando lhe disse: “meu filho, vou mandar apurar tudo isso que você está a dizer; sendo verdade esteja certo de que o seu coronel dentro em breve vestirá o pijama”. E assim aconteceu algum tempo depois.

Não se pode perder de vista a proximidade com a edição do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro daquele ano.  José Mário foi uma das primeiras vítimas, assim como o então governador José Sarney poderia ter sido cassado por conta do discurso do Jaguarema. Dizem, chegou a chamar o vice Antônio Dino, comunicando que se preparasse para assumir o governo. Este com a dignidade de sempre, respondeu-lhe que não o faria. Algumas fontes informaram que o governador de São Paulo, Abreu Sodré, teria impedido a degola do governador Sarney.

 Antônio Augusto Ribeiro Brandão, professor da Universidade Federal do Maranhão, palestrante em universidades nacionais e europeias, autor de densa obra na área das ciências econômicas e políticas, além de ter prestado assessoria a vários governos, prepara agora a sua biografia, alentada com documentos e fotografias. Esteve muito próximo de JK e Sarney e outras personalidades das áreas acadêmica e política, e agora, quer transmitir às novas gerações o legado de suas vivencias.

Não podia imaginar que a sua fotografia em branco e preto poderia, como na letra de Chico Buarque de Holanda, provocar tantas lembranças e mexer tanto com o meu coração.  Nós, os estudantes, havíamos apoiado a candidatura de Renato ao governo do Estado, em 1965.  E a sua eleição para a Câmara Federal em 66. E pensar que tudo começou no Largo do Carmo a que me referi no último artigo.  Talvez seja possível relatar as histórias dessas campanhas e de pessoas especiais como José Mário Ribeiro da Costa.

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